quarta-feira, 2 de novembro de 2011

No Tempo da Camisa de Vênus

Estava eu almoçando ontem com dois colegas de trabalho, mais novos que eu, diga-se de passagem, quando de repente, falando sobre a dinâmica da vida e como as coisas evoluem, me veio à lembrança um tema que fez parte da minha vida: Como os meninos adolescentes da minha época eram pudicos e cheios de vergonha.

Me lembrei de uma época em que eu e os meus amigos fazíamos uma verdadeira peregrinação para adquirir camisinhas (preservativos) numa farmácia, sem chamar tanta atenção.
 
Antigamente esse produto só era vendido em farmácias e não ficava nas prateleiras de hoje em dia, à vista e ao alcance de todos. Para se ter acesso ao tal "equipamento de proteção" era necessário pedir ao balconista, e, quando o balconista era "a balconista", aí o bicho pegava feio. Muitas vezes o moçoilo entrava e saia de mãos abanando, geralmente com as mãos nos bolsos, fingindo não ter encontrado o que procurava, e danava a correr quarteirões à procura da próxima farmácia onde tivesse um plantonista do sexo masculino ou que estivesse menos cheia.
Outras vezes, a farmácia estava cheia e a gente pedia baixinho, mas o balconista, sacana, "fi dun'a rapariga", pegava o pacotinho, jogava em cima do balcão na frente de todo mundo, e soltava a língua nas características do dito em altíssimo e desnecessário bom tom, como se fosse garoto propaganda daquela merda, que aliás nem precisava porque era a única marca que existia naquela época. Exposição totalmente desnecessária, a gente já sabia pra que servia, senão não estaria ali comprando aquela bosta! É ou não é?! 
Afinal, a única coisa que a gente queria mesmo, era pegar aquele negócio e sair dali correndo, não precisava de toda essa propaganda. 
Balconista de merda! Filho da P...!!! 
Sem saber onde enfiar a cara, a gente entregava o dinheiro ao vagabundo, que levava ao caixa, e pra completar ainda gritava bem alto:

- COBRA AÍ UM PACOTE DE "JONTEX"!!! - Filho duma égua!

Aí f... de vez! Nessa hora, até quem estava passando na rua olhava pra dentro da farmácia pra ver o dono da camisinha. 
Todo mundo na farmácia te olhava e disfarçava, é claro, mas dava um risinho escroto. Pronto, daí pra a frente só dava mesmo pra enxergar a porta da rua, e tudo o que a gente queria era sair correndo dali, sem olhar pra trás nem pros lados.
Como os tempos mudam, né?!

Felizmente ou infelizmente, não tenho certeza, os tempos hoje são de maior praticidade. Passados tantos aniversários, os tais preservativos, agora com tantas marcas e variedades, ficam expostos em prateleiras de farmácias e supermercados, sem merchandising do balconista, ao alcance de todos, e até as meninas, antes tão recatadas, hoje, sem a menor cerimônia, vão às compras do tal "equipamento" antes tão escondido por trás dos balcões das farmácias de antigamente.

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